Mussuca: tradição e resistência em comunidade quilombola
- CulturaMussuquense
- 11 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
Na Mussuca eu nasci, na Mussuca me criei, com o Samba de Pareia, na Mussuca eu morrerei. Ô cadê o samba, oi ele aqui...
Cada vez que nasce um bebê na comunidade quilombola da Mussuca, o pessoal do Samba de Pareia tem a missão de homenagear a mãe e a criança, dançando e tomando meladinho*.

É assim desde o primeiro parto, quando o povoado ainda era um quilombo. Mas hoje o grupo também vai à rua em outras datas, especialmente na Semana Santa e no Dia da Consciência Negra, quando costuma haver apresentação de todos os grupos folclóricos locais.
O Samba de Pareia é dançado aos pares, que se alternam conforme a evolução da música. Antigamente era executada por casais, mas a troca de posições deixava os homens enciumados. Para evitar confusão, agora só as mulheres participam. Os homens ficam em volta para bater os instrumentos.
O São Gonçalo

Ora e viva e arreviva Ora e viva e arreviva, Viva São Gonçalo viva
Atualmente, a Dança de São Gonçalo já se apresenta de forma profana, em datas comemorativas, mas sua função original é homenagear o santo e pagar promessas.
O trabalho completo leva oito dias: sete para ensaios e um para execução. O ritual dura o dia todo incluindo procissão, almoço e a dança propriamente dita. Normalmente, o público é formado apenas pelo o povo do lugar, mas se aparece algum forasteiro, como eu, é sempre bem recebido. A Mussuca é conhecida principalmente pelos grupos folclóricos. Além do Samba de Pareia e do São Gonçalo, tem ainda dois grupos remanescentes do período colonial: Samba de Coco e Reisado. Tirando as apresentações e os rituais, sobra história e identidade.
Décadas atrás, não havia ali habitante que não fosse negro. Hoje em dia já não é bem assim, mas das cerca de mil famílias da Comunidade Quilombola, poucos são mestiços e é bem difícil encontrar alguém de pele muito clara. Se encontrar, provavelmente veio de fora.
A Historia de nossa Terra
O nome Mussuca é uma alusão a um peixe preto, conhecido como Mussum, que os primeiros refugiados teriam encontrado ao cavarem um poço para abastecimento de água. A mudança para Mussuca poderia ser apenas uma corruptela, mas é atribuída pelos moradores a uma ex-escrava conhecida como Maria Banguela, mas ninguém sabe dizer o que teria motivado a alteração.

Segundo se conta, as terras da Mussuca foram doadas a uma escrava pelo próprio senhor, que teria decidido libertá-la pouco antes de morrer. O local serviu de refúgio aos que conseguiam escapar dos engenhos da região. A Mussuca também abrigou negros fugitivos em marcha para Palmares**. Alguns pousavam e seguiam caminho, outros ficavam por ali mesmo e, dessa forma, foi-se erguendo o maior quilombo de Sergipe.
Depois da abolição, muitos voltaram a trabalhar nos canaviais, outros empregaram-se nas pedreiras ou nas fazendas de sal. As mulheres que não foram absorvidas pelo mercado local, aprenderam a ganhar a vida por conta própria, enfiando os pés no mangue para pescar camarão e siri, e com isso criaram uma atividade que tornou-se responsável por pelo menos parte do sustento das famílias.
A escravidão se foi, mas a luta continua. Pela preservação da cultura e contra o preconceito, pois até hoje há relatos de pessoas que não conseguem emprego porque "são do quilombo"
Mussuca/Laranjeiras/vale Cotinguiba//Sergipe/Brasil
Texto: Criado por Sylvia Leite e reeditado por Sidney Vieira.
Fotos: Irineu Fontes (foto 1 - divulgação do Samba de Pareia) / (3,4 e 5 - divulgação da Dança de São Gonçalo, cedidas por Neilton Santana dos Santos, mestre do grupo).
Fontes: Www.lugaresdememoria.com.br
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